quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Procura-se Um Amigo


“Procura-se um amigo. Não precisa ser homem. Basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir o que as palavras não dizem.
Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, das estrelas, do Sol, da Lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou, então, sentir a falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredos sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem de ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d’água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no Passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo.”



-Vinícius de Moraes

domingo, 25 de janeiro de 2009

Ei!


Ei! Sorri... Mas não te escondas atrás desse sorriso...
Mostra quem tu és, sem medo.
Existem pessoas que sonham com o teu sorriso, assim como eu.
Vive! Tenta! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ama acima de tudo, ama a tudo e a todos.
Não feches os olhos para a sujidade do mundo, não ignores a fome!
Esquece a bomba, mas antes, faz algo para combatê-la, mesmo que te sintas incapaz.
Procura o que há de bom em tudo e em todos.
Não faz dos defeitos uma distância, e sim, uma aproximação.
Aceita! A vida, as pessoas, faz delas a tua razão de viver.
Entende! Entende as pessoas que pensam diferente de ti, não as reproves.
Ei! Olha... Olha à tua volta, quantos amigos...
Já fizeste alguém feliz hoje? Ou fizeste alguém sofrer com o teu egoísmo?
Ei! Não corras. Para quê tanta pressa? Corre apenas para dentro de ti.
Sonha! Mas não prejudiques ninguém e não transformes o teu sonho em fuga.
Acredita! Espera! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chora! Luta! Faz aquilo que gostas, sente o que há dentro de ti.
Ei! Ouve... Escuta o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Sobe... faz dos obstáculos degraus para aquilo que tu achas supremo,
Mas não te esqueças daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descobre! Descobre aquilo que há de bom dentro de ti.
Procura, acima de tudo, ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Tu... não te vás embora. Eu preciso dizer-te que... te adoro, simplesmente porque tu existes.

( Charles Chaplin )

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Impressões de Crepúsculo


Paúis de roçarem ânsias pela minha alma em ouro...
Dobre longíquo de outros sinos... Empalidece o louro
Trigo na cinza do poente... corre um frio carnal por minha'alma...
Tão sempre a mesma a Hora!... Balouçar de cimos de palma!...
Silêncio que as folhas fitam em nós... Outono delgado
Dum canto de vaga ave... Azul esquecido em estagnado...
Oh que mudo grito de ânsia põe garras na Hora!
Que pasmo de mim anseia por outra coisa que o que chora!
Estendo as mãos para além, mas ao estendê-las já vejo
Que não é aquilo que quero aquilo que desejo...
Címbalos de Imperfeição... Ó tão antiguidade
A Hora expulsa de si-Tempo! Onda de recuo que invade
O meu abandonar-me a mim próprio desfalecer,
E recordar tanto o Eu presente que me sinto esquecer!...
Fuido de auréola, transparente de Foi, oco de ter-se...
O Mistério sabe-me a eu ser outro... Luar sobre o não conter-se...
A sentinela é hirta - a lança que finca no chão
É mais alta do que ela... Para que é tudo isto... Dia chão...
Trepadeiras de despropósito lambendo a Hora os Aléns...
Horizontes fechando os olhos ao espaço em que são elos de ferro...
Fanfarras de ópios de silêncios futuros... longes trens...
Portões vistos longe... através das árvores... tão de ferro!


- Fernando Pessoa ortónimo

sábado, 3 de janeiro de 2009

Se te procuro...


Se te procuro com alegria… é porque tens o sorriso.
Se te procuro com lágrimas… é porque tens o lenço.
Se te procuro com dor… é porque tens o curativo.
Se te procuro com palavras… é porque tens a audição.
Se te procuro com desânimo… é porque tens o estímulo.
Se te procuro com fantasias… é porque tens a realidade.
Se te procuro com tumulto… é porque tens a calma.
Se te procuro com confiança… é porque tens a força.
Se te procuro com medo… é porque tens o alento.

Obrigada por seres quem és…


SIMPLESMENTE MARAVILHOSA!
(Autor Desconhecido)